Administração de medicações por via inalatória
- Dra. Natália Hazboun
- 8 de jan. de 2024
- 4 min de leitura
A via inalatória é a mais adequada para o tratamento das doenças respiratórias. Trata-se de uma via segura, se for realizada com técnica adequada. A ação direta sobre a mucosa respiratória é uma grande vantagem, possibilitando o efeito mais rápido dos fármacos em quantidades menores, o que leva a baixas concentrações no sangue e menos efeitos adversos.
Nas crianças, alguns pontos precisam ser levados em consideração, pois podem reduzir a quantidade de medicação que chega aos pulmões.
Nos lactentes (bebês menores de 2 anos), a fisiologia respiratória é caracterizada por alta velocidade e fluxo aéreo (respiração mais rápida e turbulenta), acarretando aumento da deposição de partículas na boca e nas vias aéreas de grande calibre, como traqueia, brônquios; sem chegar, de fato, aos pulmões.
Outro ponto importante a ser considerado é que, nas crianças, existe predominância do padrão respiratório nasal. Isso acaba prejudicando a deposição da medicação, pois o nariz é um filtro muito eficiente (reduz cerca de 50% da deposição pulmonar) e a maior parte da medicação inalada não chega aos pulmões.
Situações como o choro e o sono também não são interessantes para a via inalatória, pois o choro acarreta aumento e irregularidade da frequência respiratória. As partículas da medicação sofrem com esse efeito turbulento e grande parte da medicação acaba sendo perdida entre a face e a máscara, outra parte é depositada na boca e na garganta. Apenas uma fração da medicação inalatória é depositada nos pulmões.
Já durante o sono, há redução do volume corrente gerado pela criança, ou seja, temos uma respiração mais superficial, que também leva a uma menor deposição pulmonar das partículas inaladas.
A inspiração lenta e profunda com pausa inspiratória final de 5-10 segundos é apontada como facilitadora da deposição dentro dos brônquios.
Existem, basicament,e três tipos de dispositivos inalatórios. Vamos agora falar um pouco sobre cada um deles e em quais casos eles são mais indicados.
Dispositivos inalatórios:
Aerossol dosimetrado:
A medicação encontra-se misturada ao propelente (um gás presente que disponibiliza a medicação após o acionamento da “bombinha”, sendo o hidroffluoralcano – HFA – o mais usado). Com a evaporação desse propelente, as partículas adquirem tamanho 3-4 micrômetros e conseguem atingir o alvo desejado, que são os pulmões.
Uso do inalador dosimetrado com espaçador e máscara
Alguns erros ao utilizar esses dispositivos:
não agitar o dispositivo. Quando a “bombinha” está parada, a medicação fica no fundo e o gás propelente fica em cima; se não agitarmos, sairá apenas o gás e a medicação continuará no fundo. A agitação é importante para que haja uma mistura homogênea dentro do dispositivo e, consequentemente, a saída da medicação em quantidade suficiente (se não fizermos isso, há uma perda de 36% da dose do aerossol);
inspirar pelo nariz, pois já falamos que o nariz é um filtro muito potente e faz com que a medicação chegue em menor quantidade nos pulmões;
não inspirar profundamente;
não fazer pausa pós-inspiratória (não prender o ar por alguns segundos após puxar o ar).
É importante lembrar sobre o uso dos espaçadores, pois eles otimizam a deposição pulmonar e é indicado para todos os pacientes indepente da idade. A sua limpeza com detergente uma vez por semana é essencial, pois o acúmulo de sujeira funciona como um imã para as partículas do remédio e, ao invés da medicação caminhar em direção aos pulmões, ela ficará presa nas paredes do espaçador.
O exemplo de medicação mais conhecida é o Aerolin (salbutamol) e, também, corticoides inalatórios como o Clenil (beclometasona) e o Flixotide (fluticasona).
Inaladores de pó:
O aerossol é gerado e disparado pela inspiração do paciente, ou seja, dependem de uma inalação feita por ele. A inspiração deve ser profunda e a inalação rápida, forçada e constante, desde o início. Este fator é um dos mais importantes, pois uma inalação pouco vigorosa e lenta compromete a eficácia da medicação (pouca deposição no pulmão e maior deposição na orofaringe).
Precisa de colaboração e entendimento do paciente, não sendo indicados para crianças menores de 5 anos.
Ilustração de inalador de pó, exemplo do Alenia. Consiste em um dispositivo que fura a cápsula que contém o pó, sendo então aspirado pelo paciente quando esse faz uma inspiração forçada e profunda.
Nebulizadores:
Pneumáticos ou a jato de ar:
São os mais populares e os mais antigos. Nebuliza 4 a 5 ml de solução. Sua desvantagem é que faz mais barulho, entretanto costuma ser mais barato.
Nebulizador a jato de ar
O tempo de nebulização é em torno de 10 a 15 minutos. Permite o uso de soluções como soro fisiológico, salbutamol (Aerolin em gotas) ou suspensões (mistura de sólidos em líquidos, como corticoides ou antibióticos).
Recomenda-se que a respiração seja pela boca durante o seu uso, pois a respiração nasal pode reduzir em 50% a deposição pulmonar.
Ultrassônicos:
Fazem menos barulho e nebulizam mais rápido que o anterior.
São indicados para volumes maiores.
Nebulizam apenas soluções, pois as suspensões, como antibióticos e corticoides, são inativadas pelo aquecimento do aparelho.
Nebulizador ultrassônico
Membrana vibratória:
São eletrônicos, mais silenciosos que o nebulizador a jato de ar, mais leves e portáteis. Não necessitam de fonte de oxigênio ou de ar comprimido, funcionam com bateria ou corrente elétrica alternada, mas têm custo bem mais elevado. Nebuliza soluções e suspensões, embora algumas suspensões podem provocar entupimento dos orifícios da rede.
Nebulizador de membrana vibratória ou eletrônico
É importante seguir as recomendações de cada fornecedor em relação à higiene do nebulizador.
Os nebulizadores são usados para quadros de gripe e resfriado, na prevenção de quadros respiratórios para aqueles que moram em grandes cidades e em doenças pulmonares mais sérias como asma e fibrose cística. Para escolher o melhor dispositivo para o seu caso é importante levar em consideração quais medicações podem ser utilizadas; avaliar tamanho de máscara; checar o preço ideal para o seu bolso; avaliar garantia e marcas que facilitem a troca ou conserto do aparelho; analisar o tamanho do dispositivo, caso queira um que seja de fácil transporte e prático, entre outros pontos.
Na dúvida, sempre converse com seu médico para que ele esclareça seus questionamentos e oriente o melhor dispositivo para o seu caso.